Recentemente decidi fazer parte de uma minoria que depois dos trina anos de idade decidiu fazer um intercâmbio. Eu sempre tive muita vontade de fazer um, mas considerando a realidade financeira que eu tinha quando era mais jovem versus as minhas prioridades pessoais e profissionais, acabou que o intercâmbio ficou para mais tarde, mas mesmo assim era algo que eu queria muito fazer. Após pesquisar em alguns sites e calcular quanto custaria, decidi que definitivamente eu iria fazer mesmo que por um mês durante as férias do trabalho. Eu tinha muitas dúvidas se fazer apenas um mês de intercâmbio adiantaria alguma coisa e já dando um spoiler, posso dizer que sim, vale muito a pena. Primeiro pela questão do aprendizado, estar em um lugar com a cultura diferente da sua, onde a comida, os costumes, entre outras coisas são bem diferentes do seu dia a dia, e segundo por poder reviver novamente a sensação de estudar durante um período do dia e no período oposto ficar sem fazer nada, preocupado apenas em arrumar algo interessante para fazer.

Destino

Como trabalho como programador e sempre fui muito ligado ao cenário de tecnologias e startups, procurei por cidades que, além do intercâmbio, pudessem oferecer algum tipo de experiência relacionada à minha área de atuação. Das cidades que havia esta possibilidade, algumas delas eram Nova Iorque, Londres ou Dublin, porém acabei escolhendo a cidade que pudesse prover essa experiência ao máximo e ao final decidi ir pra San Francisco, mesmo tendo que pagar um pouco a mais por isso. San Francisco é uma cidade muito intensa e existem eventos de tudo que é tipo e preço: voce pode fazer desde um workshop de dois dias em Stanford, que custa setecentos dólares, ou então participar de eventos gratuitos organizados pela própria comunidade. Os eventos que mais participei foram workshops de duas ou três horas na General Assembly, que eram gratuitos ou que custavam até cem dólares e meetups de tecnologia, no qual um grupo se organiza com palestras sobre um determinado tema em algum lugar que disponibiliza o ambiente, comida e bebida.

Muitos dos meetups que participei acabavam sendo realizados nas próprias Startups, como Prezi, Twitter e DropBox. Isto possibilita além de participar do evento, conhecer as famosas sedes das empresas do vale do silício. Todo o evento é organizado por aplicativos como o Meetup ou EventBrite e não há muito mistério. Basta baixar o aplicativo, escolher o evento, inscrever-se e ir. Geralmente ao chegar nos eventos você precisará se identificar, então não esqueça de levar o passaporte.

Um fato interessante que percebi é que os meetups não são apenas eventos no qual você vai, assiste uma palestra e depois vai embora. Os meetups são apenas um plano de fundo para fazer algo que muitas vezes não damos atenção, mas que pode mudar de fato nossas carreiras: networking. Em nenhum dos meetups que eu fui, eu conhecia alguém, mas sempre acabava trocando ideia com diversas pessoas. Não que eu seja descolado e consiga sair puxando assunto na gringa com qualquer pessoa. Na real sou bem tímido e na maioria das vezes eu sentava em uma cadeira e ficava de boa, na minha. Porém é muito natural em San Francisco as pessoas chegarem em um meetup e já se apresentarem, perguntando o que você faz e o que lhe traz ao evento. Isto vale inclusive para os próprios palestrante e organizadores do evento, que além de organizar o evento em si, chamam pra si a responsabilidade criar essa dinâmica entre os participantes. O Felipe dos Santos, um amigo que fiz em San Francisco, também escreveu aqui sobre a facilidade que o americano tem para socializar profissionalmente e esse foi um dos principais aprendizados que eu trouxe comigo de lá.

O curso

Quando procurei pelo curso de intercâmbio de quatro semanas, imaginei que seriam como os cursos intensivos de inglês que fiz no Brasil, no qual uma nova turma iniciaria em um determinado nível e estudariam juntos durante as quatro semanas. Porém esses cursos de inglês para estrangeiros oferecem cursos com duração desde uma semana a cursos mais extensos, de seis meses a um ano. O curso funciona com uma turma de novatos iniciando a cada segunda-feira, sendo que o primeiro passo é um teste de nivelamento para determinar qual turma voce participará. Após o nivelamento, você ingressará em uma turma do seu nível que ja esta rodando, ou seja, na turma você encontrará pessoas que estão desde a uma semana a pessoas que já estão a seis meses, nove meses ou até mais. As turmas são bem diversificadas com pessoas de diversas partes do mundo. Eu estudei com pessoas do Japão, Colômbia, Coréia do Sul, Tailândia, Equador, Turquia, Arabia Saudita, Itália, Suíça e Taiwan, além de estudar também com diversos brasileiros, que acabaram se tornando amigos no qual tenho contato até hoje.

Minha turma na Stafford House. Assim como em toda segunda feira há uma turma de novatos, toda sexta feira também há uma turma de formandos, que são os alunos que estão encerrando o seu curso. É um dos momentos mais legais, pois há uma cerimônia de formatura, com discurso e pose para fotos. Era bonita e triste, pois sempre havia algum colega indo embora.

Hospedagem

Ao escolher o intercâmbio, optei por ficar em residência estudantil, pois eu gosto de caminhar e pra mim seria bom algo que fosse perto da escola. Porém, em San Francisco tudo é muito caro, então fiquei no lugar mais barato possível, um quarto compartilhado com mais quatro pessoas. A residência estudantil na verdade era um Hostel, que tinham quartos reservados para a empresa no qual contratei o intercâmbio.

Havia pessoas de tudo que é tipo: de mendigos a viajantes, pessoas a trabalho e de férias. Uma das coisas legais de ter ficado no hostel é que havia um lounge, onde todo dia estava alguém diferente, no qual você poderia trocar uma ideia. Conheci histórias incríveis, como a de uma iraniana que se criou na Itália e era dentista no Canadá, a de um cara do Suriname, que você poderia falar em português e ele lhe respondia em inglês, um veterano de guerra americano aposentado que ensinou um jogo de dados, tipo pôquer, para um egípcio, um chines e para mim. Enfim, além dos brasileiros no qual fiz amizade, encontrei até uma vizinha minha de praia, que foi passar férias na California com as amigas. Como o quarto era compartilhado, eu fiquei com uma cama na parte de cima do beliche, ou seja, era super desconfortável toda hora subir e descer. Logo, eu passava a maior parte do tempo no lounge do hostel e só ia pro quarto pra dormir. Ao lado do lounge havia uma cozinha bem equipada e com uma geladeira comunitária. Como San Francisco é muito, mas muito caro, acabava sempre cozinhando minhas refeições, um pouco claro, pelo fato de economizar, mas também por não precisar ter que comer qualquer coisa que fosse com muita, mas muita pimenta.

Minhas considerações

Ter escolhido estudar em San Francisco me proporcionou praticar inglês, além de possibilitar visitar e participar de eventos em Startups no qual sempre ouvia falar. É incrível a proporção de Startups por quarteirão e como isto está enraizado na cultura de lá. O período que passei em San Francisco vai ficar sempre marcado como uma das experiências mais incríveis que vivi. A cidade em si vai muito além do que vemos em especulações sobre o vale do silício. É a cidade da diversidade, da boa vibe, da liberdade, da tolerância e claro, da tecnologia. É uma cidade com festas todos os dias, com imigrantes orientais e ocidentais e também uma cidade com um vento constante, no qual não dá pra sair um dia sequer pra caminhar sem levar um casaco. É uma cidade fantástica para passar o dia em algum parque ou então para tomar um café diferente. É com certeza um lugar que quero voltar para ficar mais trinta dias ou quem sabe até mais :)